"Justiça mais equilibrada
Audiência
promovida pelo CNJ é oportunidade para discutir distribuição de recursos no
Judiciário, que hoje prejudica 1ª instância
Não
há dúvidas de que desafogar a primeira instância é a tarefa mais urgente do
Judiciário.
Trata-se,
afinal, da porta de entrada para a grande maioria dos processos: dos 28,2
milhões de casos que ingressaram na Justiça em 2012, 23,5 milhões destinaram-se
aos juízes do primeiro grau.
Além
das ações novas, há o imenso estoque de causas não decididas. Ao todo, de
acordo com o anuário "Justiça em Números", tramitaram pelos
escaninhos judiciais nada menos que 92,2 milhões de processos, dos quais 82,9
milhões --90% do total-- estavam em varas e cartórios de juízes singulares.
Persiste,
todavia, um grave desequilíbrio. Instâncias superiores, que julgam número bem
menor de ações, concentram de forma desproporcional recursos orçamentários e
servidores de apoio ao trabalho dos desembargadores.
Enquanto
há, em média, 12 funcionários da área judiciária para auxiliar um magistrado na
primeira instância, que lida com 5.910 processos por ano, um desembargador (na
segunda instância), com 3.095 casos, conta com o suporte de 14 trabalhadores.
Segundo
especialistas, isso ajuda a explicar a baixa produtividade da primeira
instância. Apenas três de cada dez processos nesse nível foram decididos em
2012, o que leva à taxa de congestionamento de 72%. Na segunda instância, esse
índice é de 46%.
É
oportuno, pois, que a primeira audiência pública da história do Conselho
Nacional de Justiça, a ser realizada hoje e amanhã, verse exatamente sobre a
eficiência do primeiro grau de jurisdição.
Algumas
recomendações já aparecem no relatório de um grupo de trabalho criado pelo CNJ
para examinar o assunto. Concluído em dezembro de 2013, o documento sugere que
a quantidade de servidores em cada grau seja proporcional à quantidade média de
processos distribuídos nos últimos três anos.
Também
o orçamento do Judiciário nos Estados deveria destinar recursos conforme a
mesma lógica.
Tal
proposta, já se prevê, enfrentará resistência: atualmente, a discussão
orçamentária é feita somente pelos desembargadores. Não raro instalados em
suntuosos e confortáveis prédios da Justiça, tais magistrados parecem fechar os
olhos para a péssima condição de varas e fóruns do interior.
"Tribunais
fazem licitação, compram veículos e móveis, colocam nas sedes dos seus palácios
e mandam móveis antigos e carros velhos para a primeira instância, que fica
como depósito do Judiciário", afirma Francisco Falcão, corregedor nacional
de Justiça.
Vê-se
que as propostas do CNJ são mais que bem-vindas. Reequilibrar os recursos
existentes e cobrar maior eficiência em seu uso significará valiosa
contribuição para que a Justiça se torne mais célere --um desejo de todos os
cidadãos."
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