quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

AS BOLAS DA VEZ SÃO A MAGISTRATURA E O MINISTÉRIO PÚBLICO - DÁ-LHE LAVA-JATO



Atualmente a magistratura está sendo alvo de ataques constantes. A mídia tem divulgado notícias que não condizem com a realidade vivida pela magistratura.

Reparem que a campanha maciça contra a Magistratura e Ministério Público começou depois da operação lava-jato. Será por que? A quem interessa enxovalhar o Poder Judiciário?

A imprensa tem o dever de bem informar o cidadão e, bem informar, significa verificar as informações antes de divulgá-las, mostrar a realidade dos fatos e não propagar notícias que surgem ninguém sabe de onde sem qualquer preocupação ética ou com os danos que podem causar.

Qual será a intenção da imprensa e dos poderosos?

Os meios de comunicação estão irmanados com o objetivo de desmoralizar os Magistrados por qualquer coisa. A eles parece que não interessa a verdade.

Será que os "fins" justificam os meios?

Sem o Poder Judiciário não há garantia do estado democrático de direito.

Tempos difíceis...



Texto de Willian Douglas. Excelente!

Ser juiz.

Você se encastela, reclamam.
Você tem FB, TT ou Insta, reclamam.
Você se cala, reclamam.
Você fala, reclamam.

Se fala difícil, ABNT, pós-doc, juridiquês,
é elite empolada e distante.
Mas fale simples, para “gente comum” entender, 
misture “você” com “tu” e...
dirão que não estudou direito, nem Direito:
vão corrigir seu português como se fosse em um concurso público!

(Aviso logo: misturo você e tu, e escrevo autoajuda e ajuda do Alto... Falo termos simples, e me misturo com as partes.
Alguns erros de português são mais bonitos de
escrever do que usar a forma culta. Disso também reclamam.)

Se não atende a imprensa, "está no castelo" e "ignora o povo";
"não dá satisfações", "é elite" nefelibata.
Mas se atende, explica, conversa, então ouve:
“Popstar”, “volte pros autos”, “seja um bom juiz, cala-te”...
ou... “quer ser senador” ou “quer ser presidente”, “quer aparecer”.

Enfim, proteja-se:
nem dê entrevistas,
nem as recuse.

Como? (Ora, você não é um deus?)
Eis nosso sacerdócio: fique em silêncio e
tenha o dom da ubiquidade.

Põe terno, é engravatado; mas se o tira, reclamam.
Você solta, reclamam. Prende, reclamam.

Segue as leis, é “legalista”, e reclamam;
mas se segue princípios da CF,  é “ativista”... e reclamam.

Desde o tempo na advocacia me ensinaram:
“Réu inocente, ataque as provas; réu culpado, ataque o juiz...”
Então o atacam, e ainda reclamam.

Garante a lei para todos, mesmo os ricos, é porque é elite...
Mas se decide pelo pobre, continua sendo “elite”.
Nunca aceitam tirar essa pecha, nunca olham de onde veio a maioria dos juízes.
Na pior das hipóteses, classe média.
Mas chamar de “elite” é mais chique. Sempre.

Não se mete na Administração, é fraco e tíbio,
mas se faz alguma coisa, é “judicialização” da saúde e da política.

Você não acha que tem que decidir quem deve ser operado primeiro; isso é coisa de médico,
mas todos os dias tem que garantir leito, remédio, internação e cirurgia.
Cadê a £@&€£¥•# do Ministério da Saúde? Cadê o governo?

Você não quer decidir isso, mas juiz tem que decidir, não?
Se nega a internação, remédio ou cirurgia, é insensível e dorme achando que matou uma pessoa; mas se conceder a tutela, é você o culpado por “quebrar” o orçamento.

Quando você não decide é moroso, lento, omisso.
Mas se decidir, é apressado e “decidiu errado, seu arbitrário”.
Quem perde nos chama de burro ou comprado,
quem ganhou de demorado.

Se não combater a escancarada corrupção a todos notória,
é vendido, cúmplice, bandido.
Mas se prende, é cúmplice do outro partido, ou arbitrário.

Você, candidato ao concurso para o cargo, saiba:
sempre será burro, lento ou rápido demais, ou bandido.
E elite, claro!
Aprenda a lidar com isto.

Quanto mais combate o crime,
mais cortam seus reajustes, orçamento e meios.
E falam mal de você;
sempre a honestíssima crítica, a honestíssima mídia.
Aos candidatos ao cargo, logo aviso:
não se ataca os corruptos impunemente.

Se você não recebe data-base, se calam.
Se contribui 14% do bruto, se calam.
Se recebe menos do que outras categorias, se calam.
Se passa sete anos com o mesmo contracheque, se calam.
(você é elite, você é elite!)
Reclamam do AM, mas só do AM dos juízes.
Parlamentar, pode; Poder Executivo, pode também.
Juiz, não (só para juízes é que é imoral, entenda).

Se exerce sua autoridade, é tirano;
se não a exerce, é um banana.
É honesto e trabalha, mas não adianta: vivem enchendo sua paciência citando a meia dúzia que nos envergonha.

Não concorda com a aposentadoria compulsória que não vira perda de cargo, mas não adianta: você trabalha e ainda assim reclamam.

Todos querem que haja juízes em Berlim,
mas ninguém respeita os  juízes de Berlim.

Quanto mais omisso, mais paz; reclamar sempre reclamam.
Aos candidatos advirto: que seus travesseiros não reclamem.
Sobre as demais vozes, alerto:
Decidiu a favor, você é justo;
decidiu contra, você é burro ou bandido.

Não conte com o STF, nem com o CNJ:
eles garantem lhe vigiar,
mas não garantem suas prerrogativas
nem os meios para bem trabalhar.
Não vá se preocupar com a LOMAN,
nem com o art. 37, X, da CF.
Não conte com eles.

Azar dos juízes que precisam contar com políticos
ou tribunais políticos,
e sorte dos políticos que podem legislar o que bem entenderem sobre os juízes.
A cúpula dos 3 Poderes dará suas soluções, mas esqueça a independência e a autonomia. Contente-se com a harmonia dos Poderes. Eles sempre serão muito harmônicos mesmo que isso signifique ignorar a situação dos juízes (os "de piso", claro).

Nunca se esqueça:
abuso de autoridade é coisa só para juiz, promotor e polícia.
Parlamentar, jamais;
governante que nega remédio, previdência e escola, jamais;
parlamentar e governante que vendem decisão, jamais.

Mas há como jamais ser punido: basta deixar tudo como está.
Vão lhe chamar de omisso, de elite, mas não vai rolar crime, nem denúncia na ONU, Haia ou para o Papa. Nem campanha na mídia para dizer que seu tio usa meias coloridas. Há como se proteger:
Cale-se juiz; cale-se MPF; cale-se, Federal.

(Aos Policiais Federais, um aviso: acordem 8 da manhã e jamais terão negados os seus reajustes e orçamento, vocês ganharão viaturas novinhas para ficarem paradas no pátio. Não mexam com os poderosos, não apareçam às 6 da manhã na mansão de algum corrupto... e tudo ficará tranquilo!)

Falando em concursos, se for fazer mestrado vão lhe discriminar.
Você não tem tempo para só que pesquisar, escrever e coisas assim. Querem dedicação e tempo exclusivo... entenda.
Nada de operar o paciente. Nada de se misturar com a patuleia:
apenas fale dela, defenda-a com discursos, não com liminares.
Se for para o pós-doc, ou mesmo antes, lembre-se: suas decisões existem para serem criticadas por quem não tem que resolver os problemas reais das vidas das pessoas.
Todas as suas liminares serão usadas contra você em juízo popular e de imprensa.

Ser juiz é aprender que deve fazer justiça para os outros,
mas jamais pedi-la.
“Justiça” é termo que não lhe cabe... elite, elite, elite.
Afinal, se você é juiz, usa a CF e acessa o Judiciário...
(A) se perder, é burro, pediu o que não podia;
(B) se ganhar, é bandido, assim como seu “cúmplice” que lhe deu o seu direito.

Não se meta com nomeações, deixe que o Rei decida
(obstrução de Justiça, cigarro, trabalho escravo ou malas e cuecas recheadas não são assunto seu!).
E deixe que fraudem as cotas, e que condenados fiquem soltos.
Melhor, nem condene: ricos são perseguidos; pobres, oprimidos.
Ninguém deve ser punido. Isso é coisa de burguês capitalista, de insensível social: solte todos, ou nem prenda.
Meta-se o menos possível. Proteja-se.
Tudo que fizer será um grande abuso.
Eis uma solução:
seja um abajur na vetusta decoração da República,
não um agente de transformação (isso é muito antipático).
O imperador, a mídia e os condenados não gostam de juízes em Berlim. Aprenda.

Vá para o MPF: paga mais, aporrinha menos (só não se meta a combater a corrupção. Ali, ou na Polícia Federal, prometo: combata a improbidade e também será maltratado).

Vá para a consultoria jurídica do Senado, ou opte por ser Notário! São nobres funções, e necessárias, pagam mais e ninguém o aporrinha.

Pense bem antes de querer ser juiz, pense.
É preciso querer muito ser juiz, ou não compensa.
Aliás, acho que raramente compensa.
Reflita: há cargos que pagam mais e doem menos.
Bons cargos, vá para um deles! Alguns recebem honorários, outros AM, olhe!

Após 30 anos de formado, 25 de magistrado, eu alerto:
pense bem, candidato ao cargo,
reflita muito. Você, sendo juiz, é culpado.
Pense, repito, pense bem: há outros cargos.

Mas, se for mesmo ser juiz, lembre-se de Caio Fernando Abreu:

“(...) tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda.”

__

William Douglas, juiz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário