Foto: Rosarita Caron |
O dia 21 de março é conhecido como o Dia Mundial da Poesia. Mas, o Dia Nacional da Poesia é celebrado no dia 14 de março, em homenagem ao grande poeta brasileiro: Castro Alves.
A poesia, dizem, é a canção da alma.
Por meio da poesia os sentimentos mais profundos se afloram e se materializam em forma de palavras capazes de tocar até mesmo o mais indiferente dos seres humanos.
Neste mês de março, que também se comemora o Dia Internacional da Mulher, a AMATRA 10, lança a semana da poesia , de 14 a 21/03, publicando poesias das mais diversas.
Inauguramos o espaço com a poesia de uma grande mulher: CORA CORALINA, nascida em 20/08/1889, em Goiás. Seu nome de batismo era ANA LINS DOS GUIMARÃES PEIXOTO, sem muita instrução, aos 14 anos escreveu seus primeiros contos e poemas, porém só publicou o seu primeiro livro aos 76 anos de idade, em 1965. Faleceu em Goiânia, no dia 10/04/2005. Cora Coralina foi ousada para sua época.
Inventava crônicas, contos e poesias para retratar o seu tempo, de uma forma ou de outra inseriu-se no movimento de resistência social à exclusão. Nas palavras de Cláudia Denise Sanches Fernandes: "A poeta resgata a existência complexa da mulher brasileira através de uma fala simples, trazendo o viver de todas elas nos versos do poema "Todas as vidas" (in, Todas as Vidas de Cora Coralina na visão teórica de Hélène Cixous):, o qual transcrevemos abaixo:
Poema da Noite
Todas as vidas - Cora Coralina
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem chiadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.
Cora Coralina
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