quarta-feira, 13 de março de 2013

O trabalho dignifica o Homem? Será?


Imagem retirada do http://blogrodocotidianosp.wordpress.com/2012/11/07/e-o-que-tem-para-ontem-hoje-e-amanha/



Nos dias de hoje, em que a magistratura passa por uma constante desvalorização profissional, sendo massacrada pelas exigências dos Conselhos Nacionais, que se encastelam e vivem a tirania da produtividade numérica estabelecida por técnicos alheios à magistratura, que sequer consideram as especificidades de cada ramo da justiça: Comum: Federal e Estadual e Especializada: Justiça do Trabalho, cabe algumas reflexões.  Os Conselhos generalizam o impensável, acabando por desestimular os Juízes vocacionados. Daí vem a pergunta: Será que o trabalho realmente dignifica o Homem?
Sobre o tema escreveu Rivadávio Amorim. 



Já te disseram que o trabalho dignifica o homem?
Cresci ouvindo este clichê acima, vindo das mais variadas bocas. Fazendo um paralelismo com o necessário alimento diário (refiro-me a comida), o mesmo pode ser salutar como também encurtar o caminho para muitas mazelas. Então, será o que o trabalho também poderia “desdignificar” o homem? Nos dias chamados "modernos", "contemporâneos" ou qualquer outro adjetivo que soe bem aos ouvidos (mas nem tanto a alma) o lado sombrio do ser humano é comumente encontrada no seu ambiente batizado como “local de trabalho”. Faz-se nítido tal constatação  quando as pessoas põem de lado quase todas suas necessidades pessoais de lazer, intimidade e vida familiar, tornando-se máquinas de trabalho em tempo integral. É inevitável que esse comportamento viciado resulte num estilo de vida altamente desequilibrado e compulsivo. E aqui me lembro de um grande colega que outrora me disse que nossos deuses metamorfosearam-se em neuroses e psicoses. Ninfetas com corpos perfeitos que pensam ser a própria Vênus em exibição no coliseu, apesar de não conseguirem articular duas frases. Crianças sem freios tal como Ícaros à espera que suas asas de cera se derretam e esfacelem-se no chão. E vejo uma miríade de seres que personificaram o verdadeiro Hefesto, deus grego do trabalho. Tal compulsão pela labuta ainda se torna muito mais arraigada, criando fortes alicerces e fazendo metástases como um câncer, nas pessoas que em seu local trabalho possuem colegas repetindo o mesmo padrão. Lidam com tal situação como “normal”. O grande herói do BBB, filósofo de codinome “Bambam” talvez falasse: “é mano, faiz parte né?” Como a maioria dos vícios, o trabalho compulsivo pode ter suas raízes nos padrões familiares. Em alguns lares, meninos e meninas são recompensados apenas em função de seu desempenho. Ou os pais enchem a molecada de presente para compensar a "culpa" por não estarem presente no dia. Será que resolve? O filho queria o presente ou o pai presente? Aliás, “o papai estava trabalhando para ganhar dinheiro meu filho” (palavras das mais pérfidas que se pode dizer a uma criança). O fato é que transmitem para a sua prole o senso de valor pessoal totalmente atrelado à ideia de vencer. E em certos casos é o fracasso de um pai incompetente que motiva a criança a buscar o suposto sucesso, a tornar-se, na verdade, a sombra do pai. Para que? Pelo que vejo nos arredores, a busca maior dos terráqueos ocidentais são dois objetos: casa e carro. E como consegui-los com ética e dignidade? Adivinhem? Trabalho... Seriam estes realmente os motivadores da nossa vida? Seria isso o resumo da ópera humana? Vejo, comumente, que após alcançarem seus desejos, as pessoas se perguntam? E agora? Vou lutar pelo que? Eu perguntaria outras coisas: como repararás a sua ausência com o filho, pai, mãe e amigos? O abandono da mulher? E as viagens que não fizeste? Conseguiu perceber o que Schopenhauer, Kant, Nietzsche e Jung mostraram? Quantos olhares, saberes, encantos estavam ao seu lado e não vistes pois estavas com uma tapa enorme na tua face? Só que aí o barco já está cheio de água e ninguém quer ajudar a resgatar um barco de pouco valor. Minha recomendação seria colocar o carro e casa conquistados dentro do barco e talvez achar a Atlântida submersa. Não era isso que buscava? Nesse ínterim, alguma coisa em algum lugar vai começar a ceder — a pessoa começa a revelar vícios múltiplos, álcool, drogas, ou chega a um estado de desgaste, profundos desequilíbrios na relação conjugal, filhos arredios e desprovidos de limites. A motivação do trabalho também está profundamente ligada ao conteúdo da sombra. E é claro que quem chega no “topo” do trabalho precisa negar suas qualidades mais ternas e aprender a cuspir com mais força, pisando no calo dos outros para poder conquistar a imagem da escalada profissional. E assim caminha a humanidade... Saudoso Adonoriam Barbosa:
"Pogréssio, pogréssio
Eu sempre escuitei fala
Que o pogréssio vem do trabaio,
Então amanhã cedo
Nóis vai trabaiá..."
Vamos lá humanidade! Ao trabalho, ao pogréssio!

Abraços,

Riva


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