Imagem retirada do http://blogrodocotidianosp.wordpress.com/2012/11/07/e-o-que-tem-para-ontem-hoje-e-amanha/ |
Nos dias
de hoje, em que a magistratura passa por uma constante desvalorização
profissional, sendo massacrada pelas exigências dos Conselhos Nacionais, que se
encastelam e vivem a tirania da produtividade numérica estabelecida por
técnicos alheios à magistratura, que sequer consideram as especificidades de
cada ramo da justiça: Comum: Federal e Estadual e Especializada: Justiça do
Trabalho, cabe algumas reflexões. Os Conselhos generalizam o impensável,
acabando por desestimular os Juízes vocacionados. Daí vem a pergunta: Será que
o trabalho realmente dignifica o Homem?
Sobre o tema escreveu Rivadávio Amorim.
Sobre o tema escreveu Rivadávio Amorim.
Já te disseram que o trabalho dignifica o homem?
Cresci ouvindo este clichê acima, vindo das mais
variadas bocas. Fazendo um paralelismo com o necessário alimento diário
(refiro-me a comida), o mesmo pode ser salutar como também encurtar o caminho
para muitas mazelas. Então, será o que o trabalho também poderia
“desdignificar” o homem? Nos dias chamados "modernos",
"contemporâneos" ou qualquer outro adjetivo que soe bem aos ouvidos
(mas nem tanto a alma) o lado sombrio do ser humano é comumente encontrada no
seu ambiente batizado como “local de trabalho”. Faz-se nítido tal
constatação quando as pessoas põem de lado quase todas suas necessidades
pessoais de lazer, intimidade e vida familiar, tornando-se máquinas de trabalho
em tempo integral. É inevitável que esse comportamento viciado resulte num
estilo de vida altamente desequilibrado e compulsivo. E aqui me lembro de um
grande colega que outrora me disse que nossos deuses metamorfosearam-se em
neuroses e psicoses. Ninfetas com corpos perfeitos que pensam ser a própria
Vênus em exibição no coliseu, apesar de não conseguirem articular duas frases.
Crianças sem freios tal como Ícaros à espera que suas asas de cera se derretam
e esfacelem-se no chão. E vejo uma miríade de seres que personificaram o
verdadeiro Hefesto, deus grego do trabalho. Tal compulsão pela labuta ainda se
torna muito mais arraigada, criando fortes alicerces e fazendo metástases como
um câncer, nas pessoas que em seu local trabalho possuem colegas repetindo o
mesmo padrão. Lidam com tal situação como “normal”. O grande herói do BBB,
filósofo de codinome “Bambam” talvez falasse: “é mano, faiz parte né?” Como a
maioria dos vícios, o trabalho compulsivo pode ter suas raízes nos padrões
familiares. Em alguns lares, meninos e meninas são recompensados apenas em
função de seu desempenho. Ou os pais enchem a molecada de presente para
compensar a "culpa" por não estarem presente no dia. Será que
resolve? O filho queria o presente ou o pai presente? Aliás, “o papai estava
trabalhando para ganhar dinheiro meu filho” (palavras das mais pérfidas que se
pode dizer a uma criança). O fato é que transmitem para a sua prole o senso de
valor pessoal totalmente atrelado à ideia de vencer. E em certos casos é o
fracasso de um pai incompetente que motiva a criança a buscar o suposto
sucesso, a tornar-se, na verdade, a sombra do pai. Para que? Pelo que vejo nos
arredores, a busca maior dos terráqueos ocidentais são dois objetos: casa e
carro. E como consegui-los com ética e dignidade? Adivinhem? Trabalho... Seriam
estes realmente os motivadores da nossa vida? Seria isso o resumo da ópera
humana? Vejo, comumente, que após alcançarem seus desejos, as pessoas se
perguntam? E agora? Vou lutar pelo que? Eu perguntaria outras coisas: como
repararás a sua ausência com o filho, pai, mãe e amigos? O abandono da mulher?
E as viagens que não fizeste? Conseguiu perceber o que Schopenhauer, Kant,
Nietzsche e Jung mostraram? Quantos olhares, saberes, encantos estavam ao seu
lado e não vistes pois estavas com uma tapa enorme na tua face? Só que aí o
barco já está cheio de água e ninguém quer ajudar a resgatar um barco de pouco
valor. Minha recomendação seria colocar o carro e casa conquistados dentro do
barco e talvez achar a Atlântida submersa. Não era isso que buscava? Nesse
ínterim, alguma coisa em algum lugar vai começar a ceder — a pessoa começa a
revelar vícios múltiplos, álcool, drogas, ou chega a um estado de desgaste,
profundos desequilíbrios na relação conjugal, filhos arredios e desprovidos de
limites. A motivação do trabalho também está profundamente ligada ao conteúdo
da sombra. E é claro que quem chega no “topo” do trabalho precisa negar suas
qualidades mais ternas e aprender a cuspir com mais força, pisando no calo dos
outros para poder conquistar a imagem da escalada profissional. E assim caminha
a humanidade... Saudoso Adonoriam Barbosa:
"Pogréssio, pogréssio
Eu sempre escuitei fala
Que o pogréssio vem do trabaio,
Então amanhã cedo
Nóis vai trabaiá..."
Vamos lá humanidade! Ao trabalho, ao pogréssio!
Abraços,
Riva
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