COQUELINO
a TV Justiça decidiu filmar um documentário sobre a justiça itinerante;
foi uma semana com a equipe de filmagem convivendo conosco nesta tarefa; fui o
mais paciente possível; concedi entrevista até no alto de uma fábrica de
asfalto instalada na beira da estrada; nessas horas a gente faz tudo para
divulgar e sensibilizar as pessoas sobre a importância do judiciário na
manutenção da democracia; chegamos ao hotel no final do dia; recebemos a visita
de uma ativista da região querendo nos apresentar uma figura pitoresca;
Coquelino é conhecido em Natividade como Coqui; é um senhor de idade que possui
um dos braços atrofiado pela paralisia infantil; pele negra; cabelo e barba
branca; sorriso no rosto; fumando um cigarro de palha; camisa azul; uma viola
por ele fabricada embaixo do braço; lembrou-me a figura de um preto velho;
contou sua história de superação; “eu era criança e tinha vontade de tocar
violão, mas meus amigos diziam que eu não podia pois não tinha um braço; chorei
muito doutor; um dia eu peguei um pedaço de madeira e esculpi meu primeiro
violão; comecei a tocar com um braço só e agora todo mundo me chama pra tocar”;
“e o senhor vive disso, seu Coqui?”; “é doutor, eu vendia madeira pra fogão a
lenha; aí veio o fogão a gás e eu fiquei desempregado; agora vivo da viola”;
ele tocou por mais de uma hora naquele por do sol; foi uma cena inesquecível; a
equipe filmou tudo; ele consegue tirar acordes e melodia com um braço só;
contando ninguém acredita; uma das músicas foi usada pelo documentário como
trilha sonora; Coqui me fez acreditar que não há obstáculos intransponíveis;
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