quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

COQUELINO - NARRATIVAS DE UM JUIZ ITINERANTE - POR MÁRCIO ROBERTO ANDRADE BRITO - JUIZ DO TRABALHO

COQUELINO




a TV Justiça decidiu filmar um documentário sobre a justiça itinerante; foi uma semana com a equipe de filmagem convivendo conosco nesta tarefa; fui o mais paciente possível; concedi entrevista até no alto de uma fábrica de asfalto instalada na beira da estrada; nessas horas a gente faz tudo para divulgar e sensibilizar as pessoas sobre a importância do judiciário na manutenção da democracia; chegamos ao hotel no final do dia; recebemos a visita de uma ativista da região querendo nos apresentar uma figura pitoresca; Coquelino é conhecido em Natividade como Coqui; é um senhor de idade que possui um dos braços atrofiado pela paralisia infantil; pele negra; cabelo e barba branca; sorriso no rosto; fumando um cigarro de palha; camisa azul; uma viola por ele fabricada embaixo do braço; lembrou-me a figura de um preto velho; contou sua história de superação; “eu era criança e tinha vontade de tocar violão, mas meus amigos diziam que eu não podia pois não tinha um braço; chorei muito doutor; um dia eu peguei um pedaço de madeira e esculpi meu primeiro violão; comecei a tocar com um braço só e agora todo mundo me chama pra tocar”; “e o senhor vive disso, seu Coqui?”; “é doutor, eu vendia madeira pra fogão a lenha; aí veio o fogão a gás e eu fiquei desempregado; agora vivo da viola”; ele tocou por mais de uma hora naquele por do sol; foi uma cena inesquecível; a equipe filmou tudo; ele consegue tirar acordes e melodia com um braço só; contando ninguém acredita; uma das músicas foi usada pelo documentário como trilha sonora; Coqui me fez acreditar que não há obstáculos intransponíveis;

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