quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

TIA NANINHA - NARRATIVAS DE UM JUIZ ITINERANTE - POR MÁRCIO ROBERTO ANDRADE BRITO - JUIZ DO TRABALHO

TIA NANINHA




cheguei em Natividade; cidade histórica, a mais antiga do Tocantins; um belo casario restaurado com recursos do governo federal; uma igreja em ruínas construída por escravos; lugar encantador; no passado, a exploração do ouro trouxe riqueza (aos exploradores, é claro); durante as audiências, todos falavam orgulhosos das maravilhas de Natividade; convidavam-me a conhecer os costumes locais; aceitei o convite; fui à casa de Tia Naninha; uma senhora conhecida por seus biscoitos caseiros; assustei-me com a casa de portas abertas; bati palmas e gritei seu nome bem alto na entrada; uma voz surgiu rompendo o silêncio; “pode entrar”; passei por todos os cômodos com a minha equipe sem encontrar uma alma viva; cheguei ao quintal e me deparei com uma grande fornalha e várias pessoas sentadas fazendo o tal biscoito amor perfeito; Tia Naninha me indicou uma cadeira e me serviu um café; ouvi suas histórias e me deliciei nos biscoitos; amor perfeito era uma homenagem ao seu casamento, amor que segundo ela é teria contribuído para uma família feliz, perfeita; comprei vários biscoitos e comecei a colocá-los na mesa de audiência para adoçar os ânimos dos litigantes e advogados; começava a audiência conversando com todos como era gostoso o amor perfeito; patrões e trabalhadores gostavam daquilo; as audiências se transformaram numa grande conversa; numa troca de experiências; algumas terminavam e acordo e cafezinho com biscoito; outras em sentenças, muitas vezes duras, longe da perfeição do biscoito que se desmancha na boca; mas uma nova certeza me foi apresentada: a sala de audiências pode ser austera e agradável; alguém duvida?

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