Foto: Rosarita Caron |
Síntese
Por vezes, sou tomado de
assalto por uma vontade desvairada (desprovida de fundamentos racionais,
conscientes ou não) de escrever. Só sei que quero, ou melhor, preciso. Ansiar
em escrever algo que não se sabe é esquisito. Acredite. E muito, por sinal. O
fato é não há pauta para as próximas linhas, apenas o desejo em fazê-las. Não
há razão para o irracional, mas para os sedentos de sentido e explicações,
quaisquer que sejam, escutem: imaginem um adolescente, menino moço, desejando
uma mulher. E encontra Sophia Loren e Brigitte Bardo no alto de seus encantos!
Qual das duas? Tenham certeza que não haveria explicações, lógicas ou não, pela
escolha de uma ou outra, pois para a satisfação de tal peripécia juvenil apenas
uma única condição sine qua non
far-se-ia presente: ser da espécie homo sapiens, gênero XX. Sophie ou Brigitte?
Poderia ser qualquer uma. Simples assim. Sem maiores explicações, como a minha
aspiração de parir letras agora. Devo
admitir que o exemplo talvez não represente um bom paralelo, mas eis que emerge
algo de valor para ser trazido à baila. Singular a todos os seres humanos: o
dia. Sim, o dia. O dia? Mas, o que é um
dia? São várias definições, diversas
variáveis envolvidas e perspectivas oriundas de grandes ramos de tudo quanto é
área do conhecimento humano. Enfim... Em síntese, a definição mais arraigada no
inconsciente coletivo é a unidade de medida de tempo, equivalente a um período
de aproximadamente vinte e quatro horas. Inquestionável sua importância, mas
limitada para o que se tratar neste curto devaneio. Aqui, o dia será
considerado como o intervalo de tempo existente desde o despertar até o
adormecer. Assim, os dias ficam tornam-se mais “humanizados” pois têm o célebre
livre arbítrio. Podem durar 72 horas ou apenas 30 minutos. E nesse intervalo
temos simplesmente todas as possibilidades a nossa frente. O despertar é o nascer, não do dia, mas do
ser humano desperto, e adormecer seria sua morte, deitado em algum lugar,
sonhando... Nascer e morrer, todo dia. Fascinante. Quantas vidas já vivestes?
Qual vida sua foi marcante? O fato é que tal conceito pode ser um grande infortúnio.
Acarreta um encargo enorme. Imaginem: “vou morrer daqui a 30 minutos e não fiz
isso!”. Ou: “perdi 1 hora com uma discussão inócua”, ou seja, perdi parte dessa
“vida” com algo irrelevante. Assim, é bem melhor ficar com o primeiro conceito
sobre o dia porque se tem a falsa sensação da eternidade. Como o indivíduo não
sabe que dia morrerá, tem todos os dias do mundo para viver. E assim sendo, os
dias vão simplesmente passando. Passando. Mais um. Passando. Mais um... Dia
após dia, como uma goteira chata e incômoda da pia na cozinha. “Sou eterno”,
bem mais sedutor. Já disse um poeta
“temos todo o tempo do mundo”. Mas que tempo é esse? Para a maioria, são muitos
os dias. E aquilo que se tem em grande quantidade pouco valor tem sua fração. É
como se os dias fossem um monte de cascalho. Há de se convir que pouca
diferença faz um cascalhinho a mais ou a menos, se joguei fora um cascalho, se
esqueci outro na gaveta. “Tenho muitos!” E assim, jogam-se fora muitos dias,
pouco a pouco, na magnitude de suas irrelevâncias. Prefiro o outro conceito.
Arquitetem, uma vida a cada dia. Um dia, uma vida. Isso é um diamante. Ter
várias vidas... A alquimia maior do ser humano. Cada dia sendo um diamante,
únicos em sua estrutura. Preciosos. E seguir a estrada com diamantes deve ser
bem mais interessante do que com um amontoado de cascalho...
Rivadávio Amorim
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