quinta-feira, 3 de outubro de 2013

CAFÉ DA MANHÃ - NARRATIVAS DE UM JUÍZO ITINERANTE Por MÁRCIO ROBERTO ANDRADE BRITO Juiz Titular da Vara do Trabalho


CAFÉ DA MANHÃ

O hotel de Taguatinga é um grande corredor com 18 aposentos; piso de cimento queimado; portas de alumínio; ouvimos tudo o que se passa nos quartos vizinhos; sabem até a hora que o juiz apaga a luz ou desliga a TV; privacidade zero; hora do café da manhã; a equipe já acordou mais cedo e foi preparar a sala no foro onde serão realizadas as audiências; neste intervalo, tomo café-da-manhã numa das quatro mesas do refeitório; tudo lotado; é necessário compartilhar a mesma mesa com outros hóspedes; uns puxam conversa; prefiro dizer apenas um “bom dia”; quem está de terno provavelmente é advogado; outros podem ser litigantes; não posso demonstrar uma intimidade que não existe; minha imparcialidade poderia ser injustamente questionada por quem assistisse à cena; a equipe chega para me buscar; já no estacionamento, todos os que estavam no refeitório entram em seus veículos e fazem o mesmo percurso em direção ao foro; um comboio de “reclamados” e “advogados”; sentaríamos novamente à mesma mesa, agora da sala de audiência, já constrangidos a ultrapassar aquele “bom dia” matinal para então discutirmos as causas postas a julgamento; a partir da viagem seguinte, quando chego ao hotel, já sou cumprimentado pelos hóspedes que agora me conhecem; “olá doutor, fez boa viagem?”; ali convivemos muito de perto com o nosso público; compartilhamos os mesmos obstáculos; dividimos o mesmo espaço; aprendi naquela experiência que juiz e sociedade são entes verdadeiramente indissociáveis;

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