ARTIGO - EU: MULHER, MÃE E JUÍZA DO TRABALHO. VIVA O 8 DE MARÇO?
EU: MULHER, MÃE E JUÍZA DO TRABALHO. VIVA O 8 DE
MARÇO?
Por Carolina Gralha
Vice-presidente da AMATRA
IV
"Aprendi com a primavera a deixar-me
cortar e voltar sempre inteira".
(Cecília Meireles)
No final do ano de 2017 fui promovida a
Juíza do Trabalho Titular, depois de mais de 12 anos de carreira na
Magistratura do Trabalho, atuando como Juíza Substituta. Minha designação:
Frederico Westphalen. Uma linda e acolhedora cidade do interior do nosso estado
que fica a exatos 427km de distância da capital Porto Alegre, onde sempre
residi.
São muitas horas de estrada durante a
madrugada, de ônibus comum, para logo cedo iniciar as audiências e resolver os
conflitos sociais. São dias longe da família, do filho, dos amigos e da rotina
geral para cumprir com afinco o meu papel e não me assusta o fato de que cada
vez é maior o número de colegas mulheres que renunciam à promoção exatamente
por todo o afastamento do convívio familiar e social que importa.
Quando nos submetemos a um concurso
público para a magistratura conhecemos a peculiar dinâmica da progressão da
carreira e sabemos que a rotina de viagens para ascender à titularidade é
inevitável. Eu sabia e, assim mesmo, sempre quis. Alguns chamam de vocação, outros
de determinação, já que alguns anos são exigidos na preparação para aprovação
em certame tão concorrido.
O que também é inevitável é viver esse
desafio junto com as incontáveis contradições da sociedade pela minha condição
de mulher e, ainda mais, de mãe.
Sim, temos que ter uma exitosa carreira,
estarmos sempre bem apresentáveis e sermos mães presentes e carinhosas. Nós,
mulheres, somos invariavelmente cobradas por tudo isso e muito mais (poderíamos
incluir na conta: sermos filhas responsáveis, esposas atenciosas, e, de quebra,
ainda saber passar, lavar e cozinhar).
E como ser tudo isso? E como não ser?
Evoluímos tanto, mas, na verdade, não
conseguimos nos desgarrar de conceitos (ou seriam pré-conceitos?) de quanto a
mulher precisa ser perfeita em tudo o que faz.
A par disso, também tenho a honra de,
pela confiança e pelo voto dos meus colegas, exercer atualmente o cargo de
Vice-Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª
Região (AMATRA IV), o que sem dúvida
demanda dedicação, trabalho e responsabilidade na representação e nas lutas em
defesa de uma categoria tão plural.
E enquanto me esmero para conciliar estas
múltiplas tarefas, em tempos de franca campanha midiática para desmoralizar o
Poder Judiciário justamente pelas suas qualidades, ainda tenho que ler e ouvir
diariamente vazias acusações e exposições difamatórias sobre a minha situação
remuneratória. Sim, não poderia deixar de falar do auxílio-moradia, que de
“penduricalho” ou “privilégio” nada tem, e se presta, isto sim, a atender
comando de lei pelo fato de a União não me disponibilizar residência oficial.
Simples assim, como ocorre com dezenas de outras carreiras públicas e privadas
em que isso não é questionado e que sequer amargam 40% de perdas pela falta de
reposição inflacionária ou com severas restrições ao exercício de outras
atividades (ao juiz em atividade é permitido apenas o exercício do magistério
e, ainda assim, evidentemente, desde que não prejudique a atividade
jurisdicional).
Realmente não é fácil ser mulher, mãe e
Juíza do Trabalho.
Dividimos nosso tempo para sermos boas
profissionais, mães, filhas, esposas… E no fim do dia somos tudo isso,
sintetizado em uma única palavra: Mulher!
Não somos perfeitas e cansamos, muito.
Mas a verdade é que, quando me canso ou
me sinto frustrada, eu olho ou lembro das minhas colegas que carregam o mesmo
peso que eu (ou muitas vezes até maior) e não se abatem. São guerreiras, não
fogem das batalhas e chegam ao final do dia com um sorriso no rosto por
cumprirem suas missões dentro das condições e possibilidades de cada uma.
Isso sim é perfeição.
Isso sim merece homenagens do dia 8 de
março e todos os demais dias do ano. Não economizem no agradecimento e no
reconhecimento à grande mulher que está ao seu lado!
Foto: Secom/TRT-RS
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