Mentir na Justiça do Trabalho é crime
e precisa ser punido
Rodrigo Trindade de Souza. Presidente da Associação dos Magistrados da
Justiça do Trabalho da 4ª Região – AMATRA-IV.
As instituições costumam ser construídas por fatos, pessoas e
ideias. E também por fantasias e preconceitos. A Justiça do Trabalho não
escapa, e carrega diversos estereótipos, o mais grave: “toda mentira é
permitida”.
Arrancar os olhos não nos faz enxergar melhor e é hora de
enfrentar as críticas com seriedade, destemor e vontade de progredir.
Mais do que em qualquer outro ramo do Judiciário, na Justiça
do Trabalho é comum haver depoimentos com versões absoluta e absurdamente
divergentes. Enquanto não avançarem projetos de alteração legislativa, o juiz trabalhista
não possui autoridade para processamento de crimes, como o falso testemunho, e
tem de se limitar a escolher uma das versões e providenciar ofícios para
investigação da falta pela Polícia Federal e Ministério Público Federal.
Isso é pouco. A mentira não pode ser vista como corriqueira,
natural, burocrática.
A jurisdição apenas terá utilidade social e será reconhecida
como virtuosa se for produzida a partir de supostos mais nobres que o ardil, a
mentira, a esperteza. Os juízes gaúchos possuem compromisso ético muito bem
definido. Não haverá Justiça do Trabalho eficaz se optarmos por ignorar
práticas disseminadas que maculam o ofício e prejudicam a correta distribuição do
justo.
Além de moralmente reprovável, mentir como testemunha na
justiça trabalhista é crime que pode ser apenado com prisão e pagamento de
multa. Não basta os faltosos serem apenas advertidos, é necessária certeza da
punição firme e adequada.
Desde já estabelecemos iniciativa de engajamento incessante
no combate às práticas processuais desleais, especialmente o falso testemunho. Nossa
associação, a AMATRA IV, inicia amplo programa de auxílio aos juízes para
identificação das práticas criminosas, encaminhamento aos órgãos investigativos
competentes e contínua participação nos inquéritos processuais criminais. Em breve,
essa campanha será ampliada e buscará alertar toda a sociedade.
Trata-se de objetivo ambicioso e inédito em todo país, mas
quando tratamos de valores como ética e verdade, não há como pensar pequeno. Nem
fazer concessões.
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