Enfrentando
a realidade brasileira dos constantes ataques à magistratura, pilar da
democracia, alvo daqueles que querem desconstruir o Poder Judiciário para, quem
sabe, impor uma ditadura de corrupção e desmandos, compartilho texto postado em
várias listas de magistrados, mas que não há identificação do autor.
"AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM,
MAS NÃO POR MUITO TEMPO"
"Talvez
você já tenha ouvido a expressão "ainda há juízes em Berlim" e não
conheça a sua origem, que é o poema de François Andrieux, onde se narra a
história em que Frederico II, rei da Prússia, decide construir para si e seus
amigos um local de lazer e prazeres finos.
Mas,
ao tentar ampliar seu castelo, viu que no terreno contíguo havia um moinho a
atrapalhar suas pretensões, cujo proprietário era o chamado moleiro de Sans-souci,
que vivia uma vida humilde da venda de sua farinha, sem preocupações
(sans-souci significa "sem preocupação").
Mesmo
diante da insistência do rei em comprar-lhe o moinho, o moleiro se negava,
alegando que ali fora onde seu pai morrera e onde criava os seus filhos. Não
iria abrir mão de sua propriedade por qualquer quantia.
Irritado,
disse então o monarca ao moleiro: "Você bem sabe que, mesmo que não me
venda a terra, eu, como rei, poderia tomá-la sem nada lhe pagar", no que o
moleiro retrucou com a conhecida frase: "O senhor? Tomar-me o moinho? Só
se não houvessem juízes em Berlim".
Diante
dessa afirmação, e do fato de que mesmo o rei deveria se curvar às leis, o
moleiro e seu moinho foram deixados em paz e frustrada a pretensão do monarca.
A partir dessa historieta, a expressão "ainda há juízes em Berlim"
tem sido usada como significado de resiliência, de resistência às pretensões
injustas e da confiança de que Justiça será feita, mesmo contra os poderosos.
No
Brasil "ainda há juízes em Berlim", muitos. E porque há juízes em
Berlim que os parlamentares estão em desespero para atacá-los, amordaçá-los,
processá-los criminalmente por determinar a prisão de corruptos e, quem sabe,
até demiti-los pelo teor de suas decisões.
O
pacote de 10 medidas contra a corrupção tornou-se, subitamente, num pacote de
bondades aos parlamentares, com anistia de crimes como peculato, corrupção
ativa e passiva, prática de caixa 2 eleitoral e outras condutas nocivas ao
país, cujo perdão interessa realmente só àqueles que delas se aproveitaram,
nunca ao povo.
Mais,
além dessa anistia, também querem a aprovação de normas que criminalizem a
conduta de juízes e promotores pelo simples exercício de combate à corrupção. A
alguns deles soa absurdo que um promotor peça a prisão, e um juiz mande
prender, alguém acusado de um crime cuja liberdade mostre-se nociva nos termos
da lei.
Causa
terror que de jantares em Paris se vá às marmitas de Bangu, por mais dinheiro,
poder e influência que se tenha.
Ora,
numa Democracia não deveriam existir pessoas imunes à lei, como querem
construir, o que mostra que o Brasil precisa avançar muito em termos de
democracia.
Frederico
II, ao ser confrontado pelo pacífico moleiro com a ameaça de levá-lo ao juiz,
retrocedeu. Ele tinha medo de um magistrado?
Claro que não. Ele era o monarca supremo. Ele tinha medo do que esse
magistrado representava: a lei.
O
imperador, por mais déspota esclarecido que fosse, sabia que o que mantinha uma
nação coesa era a lei e a ordem. A partir do momento em que um governante
subvertesse a legislação, em especial por interesses egoístas, estaria
instalado o caos e, com ele, a violência, a corrupção e, em breve, a queda do
próprio governo.
Frederico
II olhava o horizonte distante da manutenção de seu reinado para além de sua
morte, não era ave de rapina pretendendo a satisfação espúria de seus desejos à
custa do suor e sangue do povo.
Temia,
portanto, a lei que um juiz imparcial representava. Não fosse perder a coroa
por um moinho!
É
o mesmo temor que alguns parlamentares agora demonstram. Querem destruir o
país, mas, para isso, precisam primeiro acabar com os juízes: em votações à
sorrelfa de madrugada, às vésperas do final do ano, sob o manto do anonimato, alteram projetos de
lei, criam anistias para si e seus apoiadores, sob o espanto da população que
ainda não se deu conta de que este é o
Apocalipse do Brasil.
Nós,
brasileiros, estamos na encruzilhada da história em que escolheremos ou o
caminho da ética ou o do coronelismo, do jeitinho. Quem fará isso somos nós, a
população. O poder de qualquer autoridade é uma ficção criada por lei a favor
do povo, que pode, a qualquer tempo, mudar isso.
As
autoridades servem à nação, jamais são servidas.
Em
Esparta, o rei era o primeiro a acordar e o último a ir dormir. Numa batalha,
estava sempre na linha de frente. Guiava pelo exemplo, porque a uma nação forte
não interessa governantes tíbios, que se escondem atrás de mesas de mármore em
gabinetes climatizados.
Frederico
II reconheceu a força da lei que tornava aquele moleiro maior que um imperador.
Alguns parlamentares no Brasil querem mudar as leis para que não tenham que
reconhecer isso.
Sozinhos
os juízes não podem mudar esse estado de coisas. Somente os verdadeiros donos
do poder podem mostrar o que querem, a que vieram: o povo precisa ser ouvido,
precisa se unir e clamar por ética. Clamar? Quem é dono não pede, manda. Que o
povo exija justiça, exija retidão, exija que a sua vontade seja ouvida além dos
interesses particulares de quem deveria servir.
No
meio do caminho da corrupção tinha um moinho, parafraseando Drummond, a quem a
corrupção também causava ojeriza. Se este moinho cair, o Brasil sucumbirá com
ele." Ainda há juízes em Berlim, mas não sabemos até quando."
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