Humanização do uso da tecnologia é exaltada em debate sobre PJe e QVT
A necessidade de humanizar o uso das novas ferramentas tecnológicas foi a tônica do 1º Ciclo de Debates: O Processo Judicial Eletrônico (PJe) e a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), realizado nesta sexta-feira (14) na Sala de Sessões Desembargador Herácito Pena Júnior do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região.
A professora e advogada Denise Pires Fincato discorreu sobre o tema "Do direito à desconexão". Segundo ela, a urgência da vida contemporânea invade o ambiente de trabalho para determinar a necessidade de especialização, controle e conexão contínuos. “Isso gera consequências graves que a afetam a vida privada e social do trabalhador”, apontou, ressaltando que o direito à desconexão do trabalho é um direito fundamental do trabalhador.
De acordo com Denise Pires, entre os riscos do teletrabalho estão a falta de controle da duração do serviço, as enfermidades decorrentes do isolamento e a confusão nos papéis de vida familiar e laboral. Em relação ao processo eletrônico, ela apontou que a exigência de novas habilidades pode causar novas fadigas e vícios, além da dificuldade de sentir o dever cumprido. “No PJe, os fluxos não têm fim”, destacou.
A advogada afirmou que o processo eletrônico pode causar esgotamento cognitivo devido ao aumento no fluxo de informações que o trabalhador deve dispor para prestar seu trabalho (procedimentos, senhas, atalhos). Segundo ela, as medidas recomendadas para evitar os problemas causados pela ferramenta são: informação, participação, prevenção, precaução e reparação.
Custos - Por sua vez, o professor e psicólogo do trabalho Mário César Ferreira abordou o tema “Informática e usabilidade – Possibilidades e desafios para a qualidade de vida no trabalho”. Na sua avaliação, a tecnologia no trabalho pode causar três custos à saúde do trabalhador se não for bem utilizada. O primeiro é o físico, com problemas na postura corporal e nos movimentos do servidor que fica sentado por muito tempo na frente do computador, além de fadiga visual e rinite alérgica.
Também é possível haver um custo cognitivo, visto que o trabalho de “diálogo” com o computador ao usar o PJe exige mais atenção, o que pode causar redução da autonomia e da criatividade, dores de cabeça, dificuldade de resolução de problema e insônia. Por fim, o custo afetivo, no qual o trabalhador pode ficar mais irritado, ansioso, imotivado e frustrado caso haja problemas no uso da ferramenta.
Postura - A importância de uma boa postura corporal durante o serviço também foi destacada pelo professor e especialista em fisioterapia do trabalho José Ronaldo Veronesi Júnior. Segundo ele, o trabalhador não deve ficar na mesma posição por muito tempo, fazendo trocas posturais constantes. Ele recomenda que a cada hora a pessoa levante do seu posto de trabalho para beber água, o que também melhora o funcionamento renal, que, por sua vez, ajuda no metabolismo.
O fisioterapeuta apontou o elevado número de pessoas que sofrem com a síndrome da fadiga visual, causada pelo longo período de trabalho na frente da tela do computador. Para evitar a doença, ele orienta que a altura do monitor deve ficar na mesma linha dos olhos e que a tela deve ficar inclinada de 10° a 20°. A iluminação externa também deve ser adequada.
Sofrimento - Com o tema “Psicodinâmica do trabalho”, Ana Magnólia Bezerra Mendes, professora de Psicologia Social e do Trabalho, afirmou que o desejo de ser reconhecido no trabalho e de se sentir produtivo pode causar sofrimento. “A pessoa se mostra resistente diante das adversidades e daí surge o sofrimento, causado por medos, angústias e inseguranças”, assinalou.
Para Ana Magnólia, podem surgir dilemas quando o trabalhador precisa cumprir metas. “As pessoas pensam: ‘faço mais ou faço bem?’, ‘coopero ou me sobrecarrego?’, ‘denuncio ou me calo para manter meu emprego?’”, pontuou. Segundo ela, como estratégias de defesa, as pessoas podem recorrer à violência, ao cinismo organizacional e à compulsão. “Querer ser super-humano é compatível à nossa condição. Para não cair nessa armadilha, precisamos renunciar ao narcisismo”, sublinhou.
O ciclo de debates é uma ação do programa de conversas com especialistas do projeto estratégico “A Décima é 10”. No evento desta sexta-feira, o presidente dos trabalhos foi o desembargador Brasilino Ramos, vice-presidente da Escola Judicial do TRT10.
R.P. -imprensa@trt10.jus.br
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