quinta-feira, 13 de junho de 2013

E O AMOR CHEGOU...

DELÍRIO

A vida segue cheia de surpresas. Acho que “mistério” é o termo mais apropriado, em se tratando de vida...
Um dia, tocam a campainha da minha casa. Quem é? Silêncio...
Abro a porta. Pergunto: quem és tu?
A resposta ouvida não era esperada. Surreal. Demasiadamente surreal. Era mais provável qualquer paradigma comprovadamente improvável ocorrer, mas não isso.
À minha porta, bateu o amor e a vida dividiu-se em antes da batida à porta e depois da batida à porta. Não há como grafar com quaisquer que sejam as combinações de letras o indizível. Em síntese, o amor aconteceu e me deixou pleno. Embasbacam-te? Entendem-me?
Mas os mesmos ventos que trazem a chuva secam seus respingos.
Então, tal como uma espécie de abdução, no outro dia simplesmente sumiu.  E nem esperou pelo café da manhã.
Esse tal “amor” anda tão renitente, inconsequente, irresponsável. Vez ou outra chega a ser até mesmo um intruso. Tira-me noites inteiras de sono, meu apetite, exauri-me... E quer saber? Na maior parte das vezes fica por isso mesmo. Confesso, tem muita sorte o bendito (ou não) amor, pois outrora estupraria sua audição com todo tipo de desaforo existente (e ainda inventaria uns) para, no mínimo, retribuir o desassossego trazido.
Ah, amor...
O aperto no peito sempre anuncia o perigo. Resisto, não tenho vontade de acreditar nos sinais e os acidentes roubam minhas certezas. Sigo tentando fugir do desconhecido. Uma premonição do vazio? Ou um prelúdio do Éden?
 Enquanto o entendimento não vem, a vida segue tirando meu chão, e sigo sem rumo.
Nem mesmo no plano mais concreto.
Posso confiar. Mas há garantias?
Posso desconfiar. Mas há evidências inequívocas?
Desejei tanto uma mulher que pudesse levar a sério sem perder o humor. Sem perder a ternura do primeiro beijo. Acho graça disso. Ou idealizei? Uma mulher que não me ignorasse em nada. Que me amasse ou odiasse sempre, mas ignorar jamais...
Um dia ela surgiu. Encantou-me, arrebatou-me. Recordo-me do meu sentimento: “desconcerto”. E eu que nunca havia imaginado o tanto é bom estar desconcertado
Adequamo-nos as nossas realidades e construímos uma nova que já não era mais dela nem minha. Entregamo-nos um ao outro e criamos um mundo aparentemente possível por tão único em sua natureza. Nele o amor até poderia sair sem tomar café, mas voltava para o jantar com uma música leve e com a boca salivando, louca para beijar.
Sonhei acordado, dias permeados por doses constantes de felicidade. Nem mais, nem menos. Parecia até que um farmacêutico celeste tinha feito tal prescrição.
Como uma casa, um carro ou o que quer que seja, há necessidade de reparos. Nosso mundo precisava. Como fazer? Reparar um mundo? Onde está a loja de construção para comprar as peças? Reparar um mundo. Esse amor cobra caro. Se soubesse que tu amor  te assemelhas tanto ao saci-pererê, tinha cercado o mundo de Cucas. Mas agora é tarde...
Agora tenho que transformar o medo em coragem novamente. Não é fácil.
Só de pensar em novos tombos , no impacto da cabeça batendo no asfalto.
Sinto um arrepio e desabo.
Gostaria de poder proteger aquela  que me despertou para o amor.
De fazê-la entender que todo cuidado é necessário.
Que a vida é frágil, que num segundo se esvai.
Mas nas frustradas tentativas  me sentia invasivo, controlador
E recuava, tristemente.
Talvez seja a hora de aprender a apenas observar.
Apenas aceitar. Abro mão do controle em nome do amor.
O amanhã há de nos oferecer a chance de nos amarmos livremente. Docemente. Demoradamente. O resto é delírio.

Rivadávio Amorim

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