A vida segue cheia de
surpresas. Acho que “mistério” é o termo mais apropriado, em se tratando de
vida...
Um dia, tocam a campainha
da minha casa. Quem é? Silêncio...
Abro a porta. Pergunto:
quem és tu?
A resposta ouvida não era
esperada. Surreal. Demasiadamente surreal. Era mais provável qualquer paradigma
comprovadamente improvável ocorrer, mas não isso.
À minha porta, bateu o
amor e a vida dividiu-se em antes da batida à porta e depois da batida à porta.
Não há como grafar com quaisquer que sejam as combinações de letras o
indizível. Em síntese, o amor aconteceu e me deixou pleno. Embasbacam-te?
Entendem-me?
Mas os mesmos ventos que
trazem a chuva secam seus respingos.
Então, tal como uma
espécie de abdução, no outro dia simplesmente sumiu. E nem esperou pelo café da manhã.
Esse tal “amor” anda tão
renitente, inconsequente, irresponsável. Vez ou outra chega a ser até mesmo um
intruso. Tira-me noites inteiras de sono, meu apetite, exauri-me... E quer
saber? Na maior parte das vezes fica por isso mesmo. Confesso, tem muita sorte
o bendito (ou não) amor, pois outrora estupraria sua audição com todo tipo de
desaforo existente (e ainda inventaria uns) para, no mínimo, retribuir o
desassossego trazido.
Ah, amor...
O aperto no peito sempre
anuncia o perigo. Resisto, não tenho vontade de acreditar nos sinais e os
acidentes roubam minhas certezas. Sigo tentando fugir do desconhecido. Uma
premonição do vazio? Ou um prelúdio do Éden?
Enquanto o entendimento não vem, a vida segue
tirando meu chão, e sigo sem rumo.
Nem mesmo no plano mais
concreto.
Posso confiar. Mas há
garantias?
Posso desconfiar. Mas há
evidências inequívocas?
Desejei tanto uma mulher
que pudesse levar a sério sem perder o humor. Sem perder a ternura do primeiro
beijo. Acho graça disso. Ou idealizei? Uma mulher que não me ignorasse em nada.
Que me amasse ou odiasse sempre, mas ignorar jamais...
Um dia ela surgiu.
Encantou-me, arrebatou-me. Recordo-me do meu sentimento: “desconcerto”. E eu
que nunca havia imaginado o tanto é bom estar desconcertado
Adequamo-nos as nossas
realidades e construímos uma nova que já não era mais dela nem minha.
Entregamo-nos um ao outro e criamos um mundo aparentemente possível por tão
único em sua natureza. Nele o amor até poderia sair sem tomar café, mas voltava
para o jantar com uma música leve e com a boca salivando, louca para beijar.
Sonhei acordado, dias
permeados por doses constantes de felicidade. Nem mais, nem menos. Parecia até
que um farmacêutico celeste tinha feito tal prescrição.
Como uma casa, um carro
ou o que quer que seja, há necessidade de reparos. Nosso mundo precisava. Como
fazer? Reparar um mundo? Onde está a loja de construção para comprar as peças?
Reparar um mundo. Esse amor cobra caro. Se soubesse que tu amor te assemelhas tanto ao saci-pererê, tinha
cercado o mundo de Cucas. Mas agora é tarde...
Agora tenho que
transformar o medo em coragem novamente. Não é fácil.
Só de pensar em novos
tombos , no impacto da cabeça batendo no asfalto.
Sinto um arrepio e
desabo.
Gostaria de poder
proteger aquela que me despertou para o
amor.
De fazê-la entender que
todo cuidado é necessário.
Que a vida é frágil, que
num segundo se esvai.
Mas nas frustradas
tentativas me sentia invasivo,
controlador
E recuava, tristemente.
Talvez seja a hora de
aprender a apenas observar.
Apenas aceitar. Abro mão
do controle em nome do amor.
O amanhã há de nos
oferecer a chance de nos amarmos livremente. Docemente. Demoradamente. O resto
é delírio.
Rivadávio
Amorim
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